Empilhadeira e pontos cegos, antes e depois do acidente (parte 3)
Olá amigos do DDS ONLINE, hoje falaremos sobre um assunto muito importante que abrange não só empilhadeiras, mas também qualquer outro veículo automotor que utilizamos no nosso dia-a-dia.
OBS: além de conferir o DDS em texto, veja também o vídeo abaixo (Minuto SST) que trata do mesmo tema!
Você já ouviu falar em ponto cego ? Pois bem, ponto cego nada mais é do que uma obstrução parcial ou total no campo de visão de um indivíduo qualquer. Que tanto pode estar dirigindo um automóvel, operando um veículo industrial ou como também, pode estar andando tranquilamente por uma calçada mexendo em seu celular ou nas dependências de sua própria casa por exemplo. (No meu caso, já bati a cabeça na porta da estante, simplesmente porque a aba do meu boné criou um ponto cego vindo a esconder esta porta que estava aberta) Como nosso foco é a empilhadeira, vamos falar um pouco sobre as operações e riscos que todo o operador sofre diariamente com essa ocorrência. Posteriormente abordaremos este assunto aos veículos de passeio.
No tema anterior, mencionei que existem vários tipos de empilhadeiras, onde cada qual é projetada para um determinado tipo de trabalho conforme necessidade do cliente. Uma das principais partes de uma empilhadeira, encontra-se em sua parte frontal, e recebe o nome de torre de elevação. Esta na maior parte dos casos, é a principal vilã da história, pois a torre é uma das partes que mais criam pontos cegos neste equipamento.
Existem vários tipos de torres. Geralmente são classificadas pela sua capacidade de elevação ( simplex, duplex, tríplex, quadríplex etc). Nela estão abrigados o porta garfos também conhecido como carrinho, nele muitas vezes estão instalados o protetor de carga, quadro deslocador de carga, sistema giratório e muitos outros acessórios disponíveis no mercado.
Agora imagine-se sentado no banco do operador com tudo isso à sua frente obstruindo parcialmente sua visão. Falando somente do ponto cego criado pela torre de elevação, posso afirmar que dependendo do tipo de torre, a 2 metros de distância da empilhadeira considerando a sua parte frontal, uma pessoa some completamente do campo de visão do operador. Imagine esta ocorrência aliada a uma empilhadeira em movimento e um pedestre desatento andando numa área com alto trânsito de empilhadeiras. É acidente na certa você não acha?
Na empilhadeira existem pontos cegos fixos e variáveis. O cockpit por exemplo, também conhecido como cabine do operador, gera um ponto cego fixo, pois a cabine não se movimenta para lado algum. ( considerando uma empilhadeira convencional) Os principais pontos a serem considerados, são as colunas frontais e traseiras do cockpit, teto, painel frontal, portas e vidros caso a empilhadeira seja cabinada, espelhos retrovisores, faróis, etc.
Os pontos cegos variáveis, são destinados à torre de elevação e seus agregados (Porta garfos, pistões, mangueiras, correntes, garfos, acessórios etc), que movimentam-se para frente e para trás, para cima e para baixo sempre mudando o campo de visão do operador. Quanto mais complexa for a torre e quanto mais acessórios esta tiver, menos campo de visão esta empilhadeira oferecerá ao operador.
O ponto cego em si, não está localizado somente na empilhadeira sendo assim sua observância não limita-se somente ao operador de empilhadeira por exemplo, pois este assunto não é de responsabilidade somente de quem está operando a empilhadeira, mas sim de todos os envolvidos no processo. Em muitos acidentes onde o ponto cego é o principal vilão, a culpa por várias vezes acaba caindo sobre o operador do veículo industrial, que veio a atropelar um pedestre ou até então, derrubou uma fileira de caixas empilhadas, ou veio a bater a torre numa passagem mais baixa que a empilhadeira.
A pergunta que quase ninguém faz é:
Este pedestre deveria estar aqui, onde transitam várias empilhadeiras ?
Estas caixas estão armazenadas de forma correta, em local demarcado onde o mesmo ofereça espaço suficiente para armazenamento e trânsito de empilhadeiras?
Esta passagem baixa tem indicação de altura, ou pintura zebrada que chame a atenção do operador, ou ainda, existe a necessidade de trânsito de empilhadeira por esta passagem?
A empilhadeira em questão é compatível com a altura desta passagem?
Tudo isso são pontos críticos que muitas vezes só percebemos quando um acidente acontece. Cada empresa tem seus pontos a serem revistos, analisados e melhorados. Hoje nas grandes indústrias, é quase que inevitável a interação de pedestres com o trânsito de veículos industriais, sendo assim, segue algumas dicas para evitar um possível acidente por atropelamento ocasionado por um ponto cego ou pela falta de observância e cuidados com o mesmo.
1- Como sempre falamos aqui, a principal arma para evitarmos qualquer tipo de ocorrência, é a famosa informação em massa. Também conhecida como Dialogo Diário de Segurança. Esta ferramenta é algo que nunca pode faltar junto a seus colaboradores. Oriente pedestres e operadores sobre os perigos escondidos em cada parte da empresa, principalmente com enfoque no trânsito de veículos industriais e os próprios pedestres.
2- Focando a parte material da história, é interessante mapear cada setor e analisar se os mesmos atendem as necessidades que deles estão sendo exigidas. Muitas vezes um local que hoje está servindo de estoque de materiais, está totalmente sobrecarregado criando a todo instante possíveis condições de acidente tanto pela falta de espaço como pela falta de sinalização, ventilação, iluminação, itens que complementam a segurança do local etc. Juntando tudo isso aos problemas mencionados com a operação de empilhadeiras, você já pode imaginar no que vai dar.
3- Uma parte da fábrica que contribui e muito para o atropelamento, são as saídas dos pavilhões e os cruzamentos internos e externos. Constantemente existem o trânsito de empilhadeiras saindo e entrando nos pavilhões, assim como também o trânsito de pedestres que também entram e saem deles, e ou que muitas vezes estão cruzando estas saídas. É interessante criar um procedimento, onde o operador sempre buzine antes de cruzar a porta do pavilhão tanto para sair quanto para entrar. Outra ferramenta que também ajuda e muito na identificação de pedestres próximos à porta do pavilhão, é a instalação de espelhos convexos nas colunas destes portões. Tanto o operador de empilhadeira quanto o pedestre, conseguem identificar a presença um do outro.
4- Falando sobre o trânsito de pedestres, é viável que toda a planta interna assim como a externa da fábrica, tenha uma demarcação específica ao trânsito de pessoas. Esta demarcação (faixa de pedestres) deverá estar nas linhas de produção, assim como também nas ruas que circulam a área externa da fábrica. Isso conduz os pedestres a caminharem num sentido organizado e que não venham a transitar no meio do setor ou rua, podendo ser atropelado por um veículo industrial que também transitam nestas áreas.
5- Veja e seja visto. Esta é uma sequência de melhorias que ajudam e muito na identificação de pessoas e veículos. Falando sobre veículos industriais, existem vários acessórios e procedimentos que indicam para o pedestre, a presença de um veículo industrial à sua volta. São eles:
Exemplo de Acessórios:
• Instalar no veículo industrial, luz intermitente de localização ( também chamada de piscaflex ou giroflex)
• Instalar no veículo industrial, sirene indicadora de marcha ré • Instalar luz de ré complementar de alto brilho, onde o foco desta é direcionado para o chão vindo este a mover-se junto o veículo chamando a atenção do pedestre. (No exterior, este acessório de luz auxiliar de segurança é chamada de Blue Spot)
• Instalar faixas refletivas em equipamentos que não disponham de sistema de iluminação. ( carinhos de reboque simples, carretinhas, vagonetas etc)
Exemplo de procedimentos:
• Certificar-se do funcionamento da buzina (check list)
• Sempre buzinar antes de passar ao lado de um pedestre que estiver caminhando no mesmo sentido que você ( pois o pedestre estará de costa para o veículo industrial, e pode não perceber presença do mesmo )
• Sempre buzinar nas saídas e entradas dos pavilhões assim como também nos cruzamentos externos e internos da fábrica.
• Transitar com o veículo industrial sempre com os faróis acesos. ( dia e noite)
• Dar preferencia para o pedestre atravessar a rua na respectiva faixa, nunca parar o veículo próximo à faixa, mas sim a uma distância de segurança que impeça um possível atropelamento caso alguém venha a bater atrás de seu veículo projetando-o em direção ao pedestre.
• Continuar seu trajeto somente depois de ter a certeza de que o pedestre atravessou por completo a rua/faixa. Nunca passe por trás dele enquanto o mesmo ainda estiver sobre a faixa a ele destinada.
• Respeite os limites de velocidade estipulados pela sua empresa.
• Evite de ultrapassar veículos, principalmente se estes estiverem próximos à faixa de travessia de pedestres. Pois você pode não ver se algum pedestre está atravessando a mesma.
Pedestre, você também tem sua parcela de responsabilidade. Apenas atravesse quanto tiver a certeza que o operador do veículo industrial te enxergou ou sinalizou para que você concluísse a sua travessia. Não saia bruscamente de corredores ou cruzamentos que dão acesso ao trânsito de empilhadeira, lembre-se que quem se dará mal é você e não a máquina.
Em ambientes escuros ou que devido ao processo ofereçam má iluminação, use coletes refletivos, estes ajudarão na sua identificação pelo operador do veículo.
Antes do acidente, o ponto cego esconde aquilo que você deveria ver, e logo depois que tudo aconteceu, ele te mostra algo que você não desejaria ver nem em filme de terror. A ferramenta contra isso, está na seriedade e comprometimento de todos os envolvidos. Nunca será responsabilidade somente de uma pessoa.
Ainda não acredita em ponto cego? Veja as fotos abaixo e reflita.
Quantas pessoas você vê na foto abaixo?
Tem certeza? Olhe novamente!
Quantas pessoas você vê na foto abaixo?
E agora, quantas pessoas você vê na foto abaixo?
Abraço a todos !!!
Christian Cleber